sábado, 21 de novembro de 2015

Os Chamados



                   I
          (O Marido)

cedo ainda e levantar-se,
médio dia e já cansado,
e de tudo a melhor parte,
non sibi, aos outros dado.

consumir-se em uma arte,
pouco tempo além do ofício,
só dormir quando já tarde:
ter por arte o difícil.

e assim se vão os anos,
repetir de mesma cena,
entre acertos e enganos.

mas já não precisa mais
quando tudo se ordena
ao ouvir "chegou o Papai!"

                 II
       (O Sacerdote)

Nada mais ter para si,
só a solidão completa.
nas dores próprias sorrir,
n'alheia, a palavra certa.

benigno na sentença,
contra si voltar a luta,
calar frente a ofensa,
expressar-se na escuta.

quando vem o tentador,
"tua vida é vã, é dor",

"A Deus dei o que eu tinha.
que se pode comparar
ao trazer sobre o Altar
o Senhor na Eucaristia?!"

                  III
           (A Espera)

espanta ver o quanto é belo
o a que cada foi chamado,
o construir de um castelo
sobre o Rosário apoiado.

mas, ainda, não a mim.
a mim tudo está velado.

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